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Enfermeira cuida de paciente com covid-19 em ManausDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSistema de saúde de cidades brasileiras entrou em colapso com a pandemia 

A América do Sul se tornou o novo epicentro da pandemia do novo coronavírus, disse o diretor do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS) em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (22/5).

“Vimos muitos países sul-americanos com número de casos aumentando, e claramente há preocupação em muitos desses países, mas certamente o mais afetado é o Brasil a esta altura”, afirmou Michael Ryan.

A declaração foi feita após o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, ser questionado como avaliava a epidemia no Brasil após o país ter registrado mais de mil mortes nos últimos dois dias e se a organização estava negociando alguma assistência direta ao país.

Adhanom pediu então a pergunta fosse respondida por Ryan, que informou que a Organização Pan-americana de Saúde, o braço da OMS na região das Américas, está auxiliando não apenas o governo federal, mas também muitos dos governos estaduais.

“A maioria dos casos é da região de São Paulo, mas também Rio de Janeiro, Ceará, Amazonas, Pernambuco estão sendo afetados. Mas em termos de taxas de ataque, as mais altas estão, na verdade, no Amazonas: cerca de 490 pessoas infectadas para cada 100 mil habitantes, que é uma taxa de ataque bem alta”, disse Ryan.

Com isso, o continente sul-americano assume o lugar que era até então dos Estados Unidos e já coube antes à Europa e à China como a região do mundo mais preocupante por causa do grande número de novos casos de covid-19 registrados por dia.

Como a OMS deixou claro, o Brasil é o país que mais influenciou na mudança do epicentro da pandemia, mas não é o único onde a situação tem se agravado. Entenda a seguir.

Quão grave é a pandemia na América do Sul?

A América do Sul foi um dos últimos continentes a confirmar uma infecção pelo novo coronavírus.

O primeiro caso confirmado na região foi justamente no Brasil, em 26 de fevereiro, embora pesquisadores tenham apontado que há indícios que de que houve casos já em janeiro.

A pandemia na América do Sul

Casos confirmados até 22 de maio

1. Brasil 310,087
2. Peru 108,769
3. Chile 61,857
4. Equador 35,306
5. Colômbia 18,330
6. Argentina 9,931
7. Bolívia 5,187
8. Venezuela 882
9. Paraguai 836
10. Uruguai 749
11. Guiana 127
12. Suriname 11
Fonte: OMS, ECOC, Universidade Johns Hopkins

Desde então, o coronavírus chegou a todos os países da região. Mais de 548 mil casos foram registrados e mais de 28 mil pessoas morreram até agora, segundo o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças.

O total de infecções e óbitos da América do Sul ainda está muito abaixo da Europa, dos EUA e da Ásia, mas a testagem nos países da região não é tão ampla quanto em outros lugares do mundo.

Por isso, acredita-se que os números estejam sendo subnotificados e que a epidemia seja ainda mais grave.

A pandemia na América do Sul

Mortes confirmadas até 22 de maio

1. Brasil 20,047
2. Peru 3,148
3. Equador 3,056
4. Colômbia 652
5. Chile 630
6. Argentina 419
7. Bolívia 215
8. Uruguai 20
9. Guiana 18
10. Paraguai 11
11. Venezuela 10
12. Suriname 1
Fonte: OMS, ECOC, Universidade Johns Hopkins

Brasil

O Brasil é de longe a nação sul-americana que está na pior situação, com mais de 310 mil casos e 20 mil mortes.

O aumento exponencial do total de casos nos últimos dias fez o país superar Espanha, Itália e Reino Unido e se tornar o terceiro do mundo com mais infecções, atrás apenas da Rússia e dos Estados Unidos, que têm 318 mil e 1,58 milhão de casos respectivamente.

A pandemia levou a um rápido aumento da ocupação de leitos de unidades de tratamento intensivo dos hospitais, e, em capitais como Manaus, Belém e Natal, o sistema de saúde público entrou em colapso — o que levou a ações emergenciais, como abertura de novos leitos e de hospitais de campanha para conseguir dar conta da demanda.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), foi muito criticado tanto no país quanto internacionalmente por ter diversas minimizado a pandemia.

Coveiros levam caixão em cemitério de BrasíliaDireito de imagemEPA
Image captionNúmero de mortes no Brasil ultrapassou a marca de 20 mil 

Bolsonaro já declarou que tudo não passava de uma “fantasia”, classificou a reação mundial como uma “histeria” e afirmou que a covid-19 era uma “gripezinha”.

O presidente também se manifestou diversas vezes contra as medidas de isolamento social adotadas pelos governos estaduais, um tema que foi motivo de divergência e atrito com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que deixou em 16 de abril.

Seu sucessor, Nelson Teich, pediu demissão há uma semana. Um dos motivos seria a insistência de Bolsonaro de recomendar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes sem haver comprovação científica de que essas substâncias são seguras e eficazes.

O comportamento do presidente brasileiro levou o The Lancet, uma das revistas científicas de medicina mais importantes do mundo, a publicar um editorial com duras críticas contra ele.

A publicação destacou a gravidade da pandemia no Brasil e disse que Bolsonaro era “talvez a maior ameaça à resposta à covid-19” no país.

Peru

O Peru é o segundo mais afetado pela pandemia na região, apesar de ter sido um dos primeiros a adotar o isolamento social.

O país tem o 12º maior número de casos do mundo, com 108 mil infecções confirmadas, e 3,2 mil mortes.

O número de novos casos diários ficou acima de 3 mil durante quase todo o mês de maio, quando anteriormente esse número havia sido alcançado apenas uma vez durante a pandemia.

Peruanos com roupas tradicionaisDireito de imagemAFP
Image captionO Peru já é o segundo país mais afetado do continente 

Desde a semana passada, as UTIs da capital Lima estão operando com 80% de sua capacidade ocupada. A chefe da Força de Comando Covid-19 do Peru, Pilar Mazzetti, reconheceu que “neste momento, a situação é muito crítica”.

A Opas manifestou preocupação com a propagação do vírus na tríplice fronteira da região amazônica entre Brasil, Peru e Colômbia, onde a população indígena é particularmente vulnerável.

Chile

A situação no país se agravou muito rapidamente. Em 1º de maio, havia 16 mil infecções confirmados. Hoje, o número é quase quatro vezes maior.

Com 61,8 mil casos, o Chile é o terceiro país mais afetado da América do Sul e o 16º no mundo.

Desde então, o total de mortes mais do que dobrou, de 227 para 630, mas o país fica num patamar bem abaixo de Brasil e Peru.

Protesto no ChileDireito de imagemAFP
Image captionNa capital Santiago, onde houve protestos por causa da difícil situação econômica criada no país pela pandemia 

Ainda assim, o número de pacientes com covid-19 excede o número de recuperações, e cada vez mais doentes precisam de ventiladores mecânicos para ajudar a respirar.

E as autoridades temem que a situação se agrave. As unidades de emergência já estão operando com 90% de sua capacidade ocupada.

Por isso, houve um endurecimento das medidas de isolamento na capital Santiago, onde houve protestos por causa da difícil situação econômica criada no país pela pandemia.

O pico ainda não chegou

Ao contrário dos Estados Unidos e da maioria dos países da Europa, onde os índices estão em queda, muitos países da América do Sul ainda estão registrando um aumento do número de casos e de mortes diários.

O número de mortes no Brasil e no Peru está dobrando aproximadamente a cada duas semanas, em comparação com a cada dois meses no Reino Unido e nos Estados Unidos, quatro meses na França e cinco meses na Itália.

Especialistas dizem que o pico da epidemia em alguns países da região ainda está a algumas semanas de distância.

À medida que os casos diários continuam a aumentar, há preocupações de que os sistemas de saúde possam ser sobrecarregados, como já ocorreu no Equador, que tem o quarto maior número de casos até agora no continente, com mais de 35,8 mil infecções confirmadas e 3 mil mortes.

Com informações da BBC Brasil

 

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