Reprodução da entrevista da jornalista Fabiana Ceyhan com o senador Major Olimpio em 19 de abril de 2020, sobre a situação da pandemia no Brasil.
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O senador Major Olimpio (PSL), de 58 anos, teve morte cerebral confirmada pelos médicos nesta quinta (18). O parlamentar estava internado em São Paulo desde o dia 3 de março para tratamento da Covid-19. Ele é o terceiro senador vítima da doença. Antes, morreram Arolde de Oliveira (PSD-RJ), aos 83 anos, e José Maranhão (MDB-PB), 87.
Natural de Presidente Venceslau (SP), Major Olimpio priorizou no Senado propostas relacionadas à segurança pública e pautas em defesa das carreiras policiais. Na eleição de 2018, o senador apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro, mas acabou se afastando do presidente após a saída do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Entrevista com o Senador Major Olimpio sobre a situação da pandemia no Brasil – DISPONÍVEL EM 8 IDIOMAS
“Eu estou muito preocupado que essa politização, essas ações, que vão frontalmente contrárias a opinião médica e a ciência”
1- O que você acha da maneira como o Coronavírus é tratado em São Paulo? E no resto do Brasil?
Lamentavelmente acabou havendo politização nas ações de controle da pandemia, tanto em São Paulo, quanto no país. No país, o presidente Bolsonaro muito embora tenha uma preocupação muito grande em relação à economia, estimula as pessoas a irem para as ruas. Isso aumenta o risco de contaminação em massa e a saúde pública não conseguir absorver o volume de pacientes, aumentando o número de mortes. Em São Paulo, o governador João Dória faz um espetáculo de mídia, mas que as ações acabam não se concretizando. Muito ruim a condução dos dois extremos.
2- Você está preocupado que isso possa ficar ainda mais sério, dado que os números parecem estar altos?
Eu estou muito preocupado que essa politização, essas ações, que vão frontalmente contrárias a opinião médica e a ciência, possam aumentar muito o volume de pessoas contaminadas. No Brasil tem 215 milhões de pessoas e saúde pública não tem capacidade de absorver um número maior de pacientes. Isso poderá aumentar muito o número de mortes.
3- O que você acha do fato de o presidente Bolsonaro retirar o min. Mandetta do Ministério da Saúde?
Foi muito ruim a demissão do ministro Mandetta. Ele foi demitido não pelas suas omissões ou pela incompetência, e sim por causa do um excesso de competência e de credibilidade com a opinião pública. O presidente, literalmente, se enciumou politicamente com a visibilidade e a credibilidade do seu ministro. E pelo ministro se pautar pelo isolamento social, que é a única forma que o mundo todo está adotando neste momento para tentar conter o volume da pandemia.
4- Alguns médicos em São Paulo nos disseram que as pessoas reagiram bem no começo, mas agora estavam saindo novamente porque sentiam que o presidente Bolsonaro o incentivava. Você concorda com isso? Você acha que o comportamento e a fala dele representam um perigo para a saúde dos brasileiros?
Logicamente não concordo. Sou aliado do governo e do presidente, inclusive durante a campanha, mas não posso concordar neste momento com as manifestações, e pior que isso, com as ações do presidente de ir às ruas incentivar as pessoas a deixarem o isolamento social. Isso poderá e já está gerando uma reação em cadeia um volume muito maior de pessoas nas ruas e o número de contaminados e morte certamente será muito maior.
5- Há alguns dias, foi dito que quando Bolsonaro tentou demitir Min. Mandetta, alguns governantes das Forças Armadas, como Walter Souza Braga Netto, o impediram. O que aconteceu dessa vez? O que mudou?
Os militares não têm essa ação, essa influência tão grande como algumas pessoas interpretam. Logicamente, vendo a credibilidade do ministro Mandetta, os militares aconselharam que o presidente: “não faça isso neste momento”. Mas depois de uma entrevista a um programa de televisão aqui no Brasil, onde aí sim o ministro também extrapolou, errou e censurou publicamente o presidente, praticamente o desafiou, aí os militares, que são baseados em princípios nas suas formações de hierarquia e disciplina, estimularam o presidente a demiti-lo.
6- Muitos analistas dizem que a presença de militares dentro do governo é o que mantém Presidente Bolsonaro sob controle. Eles estão perdendo esse controle?
Não vejo que eles tiveram nunca esse controle sobre o presidente. Alguns analistas imaginam que o presidente, por ter sido militar, se subordina aos comandantes militares. Ao contrário, o presidente é, a todo o momento, extremamente refratário até aos aconselhamentos.
7- Há um risco, na sua opinião, de que alguns membros da oposição tentem iniciar um processo de impeachment?
Eu vejo como bastante improvável. A oposição, hoje, não tem o menor ânimo de forçar uma retirada do presidente no processo de impeachment. O que diz a oposição aqui no Brasil? “Deixa que ele vai se arrebentar politicamente sozinho”. Uma expectativa agora dos partidos e dos líderes políticos é que o presidente possa ir acabando com o seu capital político para chegar morto politicamente para as próximas eleições em 2022.
8- Última, essa crise viu surgir algumas pessoas, como o Mandetta ou o Doria. Você acha que eles poderão se tornar candidatos sérios no futuro para uma eleição presidencial?
O Doria já não é um nome novo. Ele é governador de São Paulo, se elegeu numa carona vinculando seu nome ao do Jair Bolsonaro, senão não teria sido eleito nem governador de São Paulo. Ele já queria disputar a presidência da República, e tentou acabar com o seu idealizador político, que foi o Geraldo Alckmin. Ele será candidato, mas não tem credibilidade nenhuma, nem São Paulo tampouco no restante do país.
Já o Mandetta, surgiu como um nome novo. O Democratas é um partido que nunca lançou um candidato à presidência. Agora, com sua credibilidade e a sua capacidade no curto período à frente do Ministério da saúde, acabou surgindo como um nome novo. Mandetta poderá ser sim, um candidato de credibilidade em 2022.