Caso a eleição se confirme —o país é candidato único do grupo que engloba América Latina e Caribe—, o Brasil vai se tornar, ao lado do Japão, um dos mais frequentes participantes da entidade responsável por zelar pela paz no mundo.
O Conselho de Segurança é composto por cinco membros permanentes com direito a veto —Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França— e por dez integrantes rotativos, eleitos para mandatos de dois anos cada um. Para a vitória, são necessários os votos de dois terços dos 193 Estados-membros da Assembleia-Geral.
Com suas políticas negligentes diante da pandemia e das questões ambientais, Bolsonaro tem sofrido críticas severas de líderes em todo o mundo e é visto de forma negativa por grande parte da comunidade internacional.
Apesar disso, o embaixador Ronaldo Costa Filho, representante permanente do Brasil junto à ONU, afirma que não houve resistência à candidatura e que a tradição do país e de sua rede diplomática ajuda a imprimir previsibilidade às tratativas em processos como este, independentemente de quem ocupa o Planalto.
“Temos experiência, o Brasil tem uma rede diplomática de grande envergadura em todo o mundo. […] O país é escolhido por méritos próprios em sua capacidade, não do governo”, diz o embaixador.
“Nenhum país é isento de críticas, cada país tem as suas deficiências. Mas fiz uma campanha deixando claro que o Brasil ouvirá todos os países-membros antes e depois da eleição. Nesse processo todo, jamais ouvi menção a qualquer dificuldade com o Brasil como candidato. De maneira nenhuma houve resistência.”
Bolsonaro adota postura agressiva em relação à China e a diversos países europeus, não tem engajamento com nações africanas e o alinhamento de seu governo com Israel gera conflito com países árabes e islâmicos. Em razão dos embates e rusgas, há no Itamaraty quem afirme acreditar que o Brasil pode receber nesta sexta menos votos do que a quase unanimidade que teve em disputas anteriores —não o suficiente para perder a eleição, mas para sinalizar que, sob Bolsonaro, o país tem menos prestígio.
Costa Filho, por sua vez, afirma que não é possível prever o número exato de votos que o país vai angariar e pondera que sua preocupação é manter a boa reputação que o país tem no conselho.
“Aqui [na ONU] ninguém diz que não vai votar em você. […] Nossa preocupação não é atingir um número específico, é entrar para o conselho e manter a imagem de país sério, trabalhador e dedicado aos temas da manutenção da paz e segurança.”
O embaixador reforça a ideia de que o Brasil tem histórico de contribuição no Conselho de Segurança —das 72 missões de paz já autorizadas pela ONU, o país participou de 41— e bom trânsito entre os Estados-membros.
“O Brasil é um país que, por uma série de fatores históricos, culturais e geográficos, tem diálogo fluido e aberto com praticamente toda a comunidade internacional, sem distinção, e é respeitado neste papel de ponte entre vários interesses.”
Ao lado de Índia, Alemanha e Japão, o Brasil forma o chamado G4, grupo que pleiteia também uma vaga como membro permanente —e sem poder de veto— no Conselho de Segurança.
A inclusão de integrantes fixos, porém, depende de uma reforma no sistema que não tem perspectiva de acontecer —uma das principais oposições vem da China.
Costa Filho diz que, entre as sete prioridades da campanha brasileira ao conselho, que incluem maior participação das mulheres no processo de manutenção da paz, por exemplo, está o pedido por uma reforma estrutural na entidade.
“Temos plena consciência de que esse tema não é negociado dentro do conselho, mas é uma sinalização de que a gente mantém essa prioridade na nossa agenda de política externa”, afirma o embaixador.
Se conseguir os votos suficientes nesta sexta, o Brasil ficará no posto rotativo do Conselho de Segurança de janeiro de 2022 a dezembro de 2023. Como a presidência da entidade também é rotativa —os países se revezam mensalmente, por ordem alfabética—, é muito provável que o Brasil assuma o comando da instância mais importante da ONU ao menos uma vez até o fim de seu mandato.
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