Este foi o tema da nossa entrevista com Lorë Kotínski, doutora em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais e pesquisadora de ESG em redes sociais e consultora em ESG.
Jornalista: Lorë, para começar, por que é importante que uma empresa identifique seu nível de maturidade em ESG?
Lorë Kotínski: A avaliação do nível de maturidade de ESG é fundamental para que uma empresa entenda onde está em termos de práticas de sustentabilidade, responsabilidade social e governança. Essa avaliação permite que a empresa identifique suas forças, fraquezas e áreas de melhoria. Ao saber o seu nível de maturidade, a empresa pode criar um plano de ação personalizado para evoluir e integrar o ESG de maneira mais estratégica. Além disso, é uma maneira de medir o impacto real de suas iniciativas, pois muitas vezes as empresas adotam práticas de ESG, mas sem uma visão clara do quanto estão realmente contribuindo. Com essa avaliação, elas podem ser mais assertivas nas decisões e comunicar com mais clareza o que estão fazendo para seus stakeholders.
Jornalista: E como uma empresa pode identificar o seu nível de maturidade de ESG?
Lorë Kotínski: A identificação do nível de maturidade de ESG começa com um diagnóstico abrangente das práticas atuais da empresa. Isso pode ser feito por meio de uma autoavaliação ou de consultorias especializadas. O processo envolve a análise de indicadores-chave em três dimensões: ambiental, social e de governança. As perguntas básicas são: como a empresa está gerindo seus recursos naturais? Como ela se relaciona com suas partes interessadas, incluindo colaboradores, clientes e comunidades? E qual é o nível de transparência e responsabilidade nas tomadas de decisão?
Existem diversas ferramentas e frameworks que ajudam a realizar esse diagnóstico. Um exemplo é o uso de questionários detalhados e métricas de sustentabilidade que avaliam desde o consumo energético até as condições de trabalho. Outra prática comum é a análise da cadeia de suprimentos, verificando se os parceiros de negócios também seguem critérios de ESG. O importante é que a empresa consiga mapear seu desempenho em cada um desses pilares e entenda quais são as lacunas a serem preenchidas para alcançar um nível mais alto de maturidade.
Jornalista: Recentemente, a ABNT lançou a norma ABNT PR 2030, que orienta sobre práticas sustentáveis. Quais são as vantagens para as empresas que seguem essas diretrizes?
Lorë Kotínski: A norma ABNT PR 2030 é um marco importante para o mercado brasileiro, pois fornece diretrizes claras sobre como as empresas podem adotar práticas sustentáveis de maneira estruturada. Uma das principais vantagens de seguir essa norma é a credibilidade que ela traz. Empresas que se alinham com a ABNT PR 2030 mostram ao mercado e aos consumidores que estão comprometidas com padrões reconhecidos e de alta qualidade em ESG. Isso pode fortalecer a reputação da marca e aumentar a confiança dos stakeholders.
Outro benefício é a melhoria da eficiência operacional. A norma ajuda as empresas a implementarem processos mais sustentáveis, como o uso responsável de recursos e a redução de desperdícios, o que pode gerar economia de custos a longo prazo. Além disso, a ABNT PR 2030 incentiva as empresas a olharem para a inovação e a buscarem soluções tecnológicas que promovam sustentabilidade, o que pode aumentar sua competitividade no mercado.
Seguir as diretrizes da ABNT também facilita a conformidade com as exigências legais e regulatórias, que estão cada vez mais rigorosas no que diz respeito à sustentabilidade. Além de evitar penalidades, as empresas podem se preparar melhor para futuras regulamentações, já que a norma está alinhada com as metas de desenvolvimento sustentável da ONU para 2030.
Jornalista: Como a ABNT PR 2030 auxilia as empresas a evoluírem no nível de maturidade de ESG?
Lorë Kotínski: A ABNT PR 2030 serve como um guia prático para que as empresas evoluam no nível de maturidade de ESG. Ela oferece uma abordagem passo a passo, desde a identificação de desafios até a implementação de soluções, o que facilita a transição para práticas mais maduras. O documento apresenta uma série de metas e critérios que ajudam as empresas a estabelecerem objetivos claros em suas políticas ambientais, sociais e de governança.
Além disso, a norma é muito útil no processo de monitoramento e avaliação das práticas de ESG. As empresas são incentivadas a desenvolver métricas de desempenho, permitindo que acompanhem sua evolução ao longo do tempo. Isso garante que as práticas de ESG sejam constantemente melhoradas e integradas à estratégia de negócios, em vez de serem ações pontuais ou superficiais.
Ao seguir a ABNT PR 2030, as empresas também são incentivadas a envolver todas as suas partes interessadas no processo, promovendo uma cultura corporativa alinhada com os princípios de sustentabilidade. Essa abordagem sistêmica, onde todos os departamentos e colaboradores entendem a importância do ESG, é o que diferencia uma empresa madura de uma que está apenas começando.
Jornalista: Quais seriam os principais desafios que as empresas enfrentam ao seguir as normas da ABNT PR 2030?
Lorë Kotínski: Um dos principais desafios é o investimento inicial, tanto em tempo quanto em recursos, para implementar as mudanças exigidas pela norma. Empresas que não estão acostumadas a operar sob padrões rigorosos de ESG podem encontrar dificuldades em adaptar seus processos e capacitar suas equipes. A resistência interna à mudança também é um fator a ser considerado, pois implementar ESG de forma eficaz exige uma mudança cultural significativa dentro da organização.
Outro desafio é o monitoramento contínuo. A ABNT PR 2030 requer que as empresas mantenham um processo de melhoria constante, o que significa que elas precisam estar sempre revisando suas práticas e ajustando suas metas. Isso pode ser uma dificuldade para empresas que não possuem uma estrutura robusta de governança ou sistemas de gestão eficientes.
Por fim, há o desafio de alinhar a empresa com toda a cadeia de suprimentos. Para cumprir com os critérios de ESG, a empresa precisa garantir que seus fornecedores e parceiros também adotem práticas responsáveis, o que pode exigir negociações e, em alguns casos, a substituição de fornecedores que não estão em conformidade.
Jornalista: Para finalizar, que mensagem você daria às empresas que ainda não começaram a avaliar sua maturidade de ESG e a seguir normas como a ABNT PR 2030?
Lorë Kotínski: Minha mensagem seria: não adiem essa transformação. A demanda por responsabilidade ambiental, social e de governança só cresce, e as empresas que não se adaptarem correm o risco de ficar para trás. Avaliar o nível de maturidade de ESG é o primeiro passo para entender onde estão os gaps e criar uma estratégia sólida de evolução. Seguir normas como a ABNT PR 2030 oferece um roteiro claro para essa transformação, garantindo que a empresa não apenas atenda às expectativas do mercado, mas também se torne mais eficiente, inovadora e resiliente.
O ESG não é uma moda passageira; é o novo padrão de operação para empresas que querem ser relevantes e sustentáveis no longo prazo. Agora é a hora de agir e se posicionar como uma empresa comprometida com o futuro.