Por Milton Atanazio
Consegue desagradar a Israel, Palestina, Ruralistas e Militares
Jair Bolsonaro tem uma promessa a cumprir. Longe agora da onda eleitoral e já no exercício da Presidência da República, tem um “abacaxi” para descascar ou um nó para desatar, como queiram, uma vez que mudar a embaixada do Brasil em Israel só é bom para Netanyahu.
Em 1º de novembro do ano passado, o presidente afirmou que transferiria a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Agora em viagem oficial ao país do Oriente Médio, a expectativa de um anúncio era aguardada. E o que acontece?
Anuncia a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, em vez da prometida transferência da embaixada brasileira de sua atual sede. De forma reservada, integrantes do Itamaraty classificaram como “salomônica” a decisão do governo brasileiro.
A ordem de manter a embaixada em Tel Aviv frustra Israel e irrita palestinos. Após o anúncio da abertura do escritório, a Autoridade Palestina afirmou que vai chamar de volta seu embaixador no Brasil para consultas e para estudar uma resposta à medida.
De um lado, o presidente Jair Bolsonaro não atendeu a um pleito de Israel ao descumprir sua promessa de transferir a sede da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém e isso acabou gerando críticas de autoridades israelenses, que apostavam na disposição de Bolsonaro em honrar a palavra sobre a transferência da embaixada. Israel considera Jerusalém a “capital eterna e indivisível” do país. Jerusalém não é reconhecida internacionalmente como a capital israelense.
De outro, desagradou não só palestinos, que reivindicam Jerusalém Oriental como capital de seu futuro Estado, mas também países islâmicos – e não apenas do mundo árabe – que são parceiros comerciais importantes para a exportação brasileira de carne bovina e de frango.
Fontes do Ministério da Agricultura já demonstram preocupação com a reação de parceiros comerciais brasileiros entre os países islâmicos. O Brasil conquistou ao longo de anos um mercado poderoso de exportação de carne bovina e de frango para esses países – um negócio maior que US$ 3 bilhões por ano.
Toda a movimentação inicial de Bolsonaro era mesmo pela transferência da embaixada. Mas a forte reação da bancada ruralista, que teme perder gradualmente esse mercado, e o alerta da ala militar do governo fizeram o governo recuar da promessa inicial do presidente.
Um crítico público da mudança foi o próprio vice-presidente Hamilton Mourão. A avaliação reservada de militares é que o Brasil não pode perder a condição de país neutro no Oriente Médio. Caso contrário, pode virar rota do extremismo religioso já presente em vários países do mundo.
Como podemos observar, a solução salomônica não foi uma boa. Continua com o abacaxi e o nó para desatar, não agrada a Israel nem a Palestina, e ainda de quebra desagrada a Ruralistas e Militares. Foi mal!