Brasília in Foco: Qual a importância da Relação comercial do Brasil com BRICS e principalmente com a China?
Fausto Pinato: A economia do Brasil é importante, mas sozinha no globo tem sua relevância diminuída. Quando criamos os BRICS, na década retrasada, o objetivo foi alavancar a importância do nosso mercado – tanto com relação ao que exportamos, quanto à capacidade de consumo interno que possuímos. A existência dos BRICS força a União Europeia e os Estados Unidos a terem que negociar mais suas relações comerciais. A existência de um terceiro ator de grandes proporções, no caso os BRICS, no cenário internacional, beneficia e incentiva a propulsão de mercados emergentes. A China, nossa maior parceira comercial, a frente das relações exercidas pelos BRICS, é também nossa maior aliada para alcançarmos mercados alternativos para os nossos produtos. A criação do Banco dos BRICS, que vem saindo do papel, é uma iniciativa salutar no sentido de ampliar e melhorar as relações entre as economias do bloco. Atualmente, além de financiar investimentos que geram empregos e renda dos países signatários (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Banco dos BRICS (NBD – Novo Banco de Desenvolvimento) começou a operar em novas fronteiras estratégicas como Bangladesh, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. A atuação do Brasil conjuntamente com as nações que formam os BRICS resguarda os interesses das nossas empresas e fortalece nossa economia no âmbito mundial. Até novembro de 2021, nossa exportação apenas para a China, representou mais de 125 bilhões de dólares – que pela cotação atual da moeda norte-americana representa quase 670 bilhões de reais. Se só isso não demonstrar o quão importante é nossa relação com a China, apontemos, então, para as parcerias e investimentos que os chineses estão fazendo em nosso país apenas na área de energia, onde desde 2007 já foram realizados no país mais de 176 empreendimentos no setor com aportes de mais de 66 bilhões de dólares (mais de 347 bilhões de reais).
Brasília in Foco: Como o senhor acredita que a atual crise entre Ucrânia e Rússia pode ser resolvida sem causar prejuízos ao mundo?
Fausto Pinato: O conflito diplomático que envolve Ucrânia, Rússia, União Europeia e Estados Unidos deve ser tratado pelos diversos organismos multilaterais que atuam no mundo. Notadamente cabe a Organização das Nações Unidas (ONU) e ao seu Conselho de Segurança dirimir ali os impasses. A nossa diplomacia, como sempre agimos, por tradição desde o Barão do Rio Branco, não pode se meter neste assunto, que não nos compete. Poderemos, sim, como mediadores dos organismos multilaterais ajudarmos para que a paz prevaleça.
Brasília in Foco: O senhor acredita que é possível para o governo brasileiro agir de uma forma pragmática e manter boas relações com os EUA e com a China ao mesmo tempo? A pergunta é feita devido a algumas hostilidades em relação à China neste governo que poderiam ser evitadas já que estamos falando de um grande parceiro comercial do Brasil.
Fausto Pinato: Sim, claro! Do mesmo modo, nós também não gostaríamos de receber provocações de qualquer país do mundo. A diplomacia é um espaço onde a serenidade precisa ser mantida sempre. Inclusive, em momentos de profunda tensão. Não é fazendo piadas, ou concedendo ataques gratuitos, ao país que é o nosso maior e principal parceiro comercial, que ampliaremos e ou melhoraremos nossas relações com o povo chinês. Ao mesmo tempo, também não podemos adotar nenhum alinhamento automático com nenhuma super potencia, sejam os Estados Unidos, ou a China. Devemos adotar uma conduta estratégica de independência, pensando sempre no interesse da coletividade nacional e pátria.