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O mundo acompanha com apreensão e cautela o conflito entre a Rússia e os países que formam a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN e da União Europeia – UE, tendo como palco a Ucrânia.

Para entender melhor esta situação, é importante explicar alguns aspectos políticos, geopolíticos, econômicos e estratégicos. Rússia e Ucrânia possuem laços históricos, étnicos, culturais e religiosos que remonta há vários séculos. Fizeram parte da aliança eslava, a qual teve grande importância no século XIX, com o surgimento do movimento pan-eslavismo, que pregava a união de todos os povos eslavos da Europa Oriental.

Com a Revolução Russa de 1917, a Ucrânia passou a integrar formalmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS até a sua dissolução no começo dos anos 90. A partir desse momento, os caminhos da autonomia ucraniana são de aproximação e/ou recuo com o Ocidente, a depender dos interesses políticos e nacionais dos governos daquele país. Todos esses movimentos foram observados com atenção e precaução pela diplomacia russa.

Em 2013, a Ucrânia estava prestes a assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, quando o então Presidente Viktor Yanukovych suspendeu as aplicações do tratado, que foram negociadas pelo seu antecessor. Este ato levou a realização de fortes manifestações populares pró-Ocidente, culminando na sua deposição e forçando o seu exílio para Rússia. Na sequência em 2014, a península da Crimeia, pertencente a Ucrânia, porém com forte presença da população russa e fundamental para o acesso ao Mar Negro, foi anexada à Federação Russa, mesmo com protestos da comunidade internacional, em especial da União Europeia e os Estados Unidos.

Do ponto de vista geopolítico, mesmo com o fim da URSS, a Rússia busca manter sua influência sob os países do Leste Europeu. O avanço da OTAN sobre os ex-integrantes da Cortina de Ferro (Albânia, Bulgária, Croácia, Romênia, Lituânia, Polônia, Hungria, Letônia, Estônia, República Tcheca, Eslováquia, Montenegro e Macedônia do Norte fazem parte desta organização atualmente), é visto com extrema desconfiança e ameaça pelo governo russo, que teme pela sua segurança e defesa diante do vasto expansionismo nos últimos 30 anos.

Essa disputa entre Ocidente X Rússia reacende velhos conflitos que remontam a Guerra Fria com repercussão na dinâmica estratégica mundial. De um lado, os Estados Unidos e seus parceiros (União Europeia e OTAN) buscam fortalecer e ampliar sua zona de influência sobre antigos aliados russos. Por outro lado, a Rússia e seus aliados (antigas repúblicas soviéticas e mais recentemente a China) procuram minimizar a redução do seu poder na região, impondo uma linha vermelha aos seus adversários e deixando claro que não irão tolerar o ingresso da Ucrânia na OTAN.

Nesse cenário, o aspecto econômico é outro motivo a ser observado. A Ucrânia possui um papel importante na produção de commodities (trigo e milho), além de ser produtor de gás e óleo. Por outro lado, a Rússia é fornecedora de aproximadamente 50% do gás consumido na Europa Ocidental, tendo como rota de passagem justamente o território ucraniano. Em caso de guerra entre os dois países, haverá sérios danos no abastecimento desses produtos, o que provavelmente geraria um forte impacto na cadeia econômica europeia e global.

Assim, os perigos que cercam essa crise são reais e tangíveis. A máquina de guerra russa é uma das maiores e letais do planeta. Hoje há mais de 100 mil soldados, além de tanques, carros de combate, blindados e aeronaves na fronteira ucraniana prontas para entrar em ação. A Ucrânia, por sua vez, possui uma força militar bem inferior, no entanto, possui o apoio dos membros da OTAN com mísseis antitanques, bombas destruidoras de bunkers, bem como 5.000 homens vindos dos EUA. A apreensão está no ar permanentemente             As consequências de um possível conflito serão devastadoras para o mundo, pois podem desencadear efeitos negativos na governança global, nas cadeias produtivas internacionais, aumento do barril do petróleo e gás, além de um desastre humanitário em número de mortos e aumento do número de refugiados. As peças desse xadrez já estão colocadas no tabuleiro geopolítico. Espera-se, pelo bem da humanidade, que as negociações diplomáticas entre as nações envolvidas nesta crise consigam chegar num acordo, sem as armas serem disparadas.

*Prof.Bruno Sadeck

Possui graduação em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2001). Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília – UnB (2006) e Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2014) na linha de Política Internacional. Professor Adjunto Nível 3 da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no curso de Relações Internacionais. Exerceu cargo de docente em três Instituições de Ensino Superior em Brasília- DF e uma em Porto Alegre-RS. Trabalhou durante 5 anos na Assessoria Internacional (coordenador do Setor Educacional do MERCOSUL) e 1 ano na Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior – SERES (colaborador técnico) do Ministério da Educação. Trabalhou 6 anos na Presidência da República na Secretaria de Relações Institucionais (Subchefia de Assuntos Federativos) e na Secretaria Nacional de Articulação Social. Tem experiência na área de Ciência Política e Relações Internacionais, com ênfase em Federalismo, Cooperação Internacional, Sistemas Eleitorais, Política Internacional, Integração Regional, Estudos fronteiriços e desenvolvimento regional.

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